A revista Exame traçou um perfil do pastor Silas Malafaia, presidente
da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) e comparou sua postura à
frente da denominação como a de um CEO, um alto-executivo, à frente de
uma grande empresa.
Por ocasião da abertura da filial paulistana da ADVEC, a revista
entrevistou o pastor e montou uma lista com oito lições que o pastor
ensina, com sua estratégia de expansão da denominação, ao mundo dos
negócios. O jornalista Jardel Sebba diz que Malafaia é “um bem-sucedido
CEO da fé cuja forma de comandar seu, digamos, negócio, traz
ensinamentos”.
A ideia de Malafaia ao inaugurar uma filial em São Paulo,
após encontrar o imóvel correto, era construir um templo para 6 mil
pessoas. Depois do negócio fechado, encontrou outro imóvel, no bairro da
Moóca, com a possibilidade de aluga-lo e reforma-lo para abrigar 4 mil.
Alugou, reformou e mudou os planos iniciais, aumentando o templo
definitivo – que será aberto daqui a três anos – para acolher 10 mil
pessoas.
“Desde a assinatura do aluguel, levamos 45 dias para aprontar o
lugar, rebaixar o piso, instalar o som, as salas de estudo, as cadeiras,
numa conta simples só com essas coisas gastamos R$ 2,5 milhões”, contou
o pastor, sem revelar o custo da compra do imóvel onde será construído o
primeiro megatemplo da ADVEC, num bairro vizinho à primeira filial em
São Paulo.
Confira abaixo, as oito lições empresariais que a Exame tirou da estratégia de Malafaia à frente da ADVEC:
Modernize-se sem abandonar as tradições
“Nossa igreja é marcada pela
palavra, o pastor prega uma mensagem bíblica, ensina um assunto. Essas
igrejas neopentecostais, as três mais famosas, são igrejas de cinco
cultos por dia”, pontua Malafaia. Do jeito que ele fala, entender como
funciona a Assembleia de Deus parece simples, mas não é.
“São três vertentes. A mais
ortodoxa, fechada, corresponde a mais da metade; uma ala moderada
responde por uns 30%, e a ala contemporânea, da qual faço parte,
representa de dez a quinze por cento”, lista Malafaia. Todos são iguais
nos dogmas de fé, creem nas mesmas coisas, mas os costumes estão mais ou
menos em sintonia com o mundo do lado de fora. Silas Malafaia é ligado à
Assembleia de Deus desde criança, “A nossa era conhecida como ‘a igreja
do pecado’ pelas outras congregações da Assembleia de Deus”, lembra o
pastor.
“Tive a graça de estar numa igreja
mais aberta e ter nos meus pais pessoas com conhecimento teológico”,
resume. Como queria expandir sua igreja e a quantidade de regras dentro
da Assembleia de Deus era típica, como ele mesmo define, de um “mundo de
maluco”, saiu da organização central numa boa e montou uma ramificação,
a Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
“Se quiser abrir uma igreja, não
quero ter de ver se o pastor do bairro vai deixar, eu abro e acabou, não
devo satisfação a ninguém”, diz. [Malafaia é] um liberal na igreja e um
conservador no ambiente mundano.
Seja sempre mais ambicioso
Malafaia era conferencista havia 35
anos, tinha viajado o mundo pregando, tinha uma editora, lançava seus
livros, aparecia na TV, era conhecido em seu meio e não pensava em
assumir uma igreja. Mas, uma vez convocado para liderar, não se fez de
desentendido: abraçou a causa.
“Cuidar de pessoas é a coisa mais
difícil que tem. A igreja do meu sogro era de bairro, o que chamam de
igreja local”, lembra o pastor. “Pensei: não vou assumir uma igreja para
ser pastor local, para isso escolham qualquer outro aí. Vou pegar essa
igreja e dar a ela uma abrangência nacional”, proclama.
Saiba esperar as oportunidades
A expansão da Vitória em Cristo
começou sem planejamento fixo, mas para onde as oportunidades
apareceram. “Um cara abriu um bingo num lugar fantástico em Natal, e com
trinta dias aberto veio a lei e ele foi obrigado a fechar. Fui ver um
ano depois, ele não queria alugar para ninguém, quando falei que era o
Silas Malafaia ele topou. E assim entrei em Natal”, lembra, com uma
ponta de orgulho.
“Em Santa Catarina, uma senhora
evangélica dona de universidades em Joinville soube que estava abrindo
igrejas, me ligou e falou que tinha um terreno, eu só precisava pagar o
aluguel”, relembra.
Conheça e cuide de seus comandados
Silas Malafaia tem cerca de 1.500
funcionários sob seu comando nas estruturas da Vitória em Cristo, entre
pastores, engenheiros, funcionários administrativos e outros, a maioria
concentrada na matriz carioca. “A estrutura dos templos e os detalhes
fazem o Malafaia atingir um público com maior poder aquisitivo que o da
Universal e o da Mundial”, analisa Marcelo Rebello [presidente da
Associação Brasileira de Empresas e Profissionais Evangélicos (Abrepe)].
“Ele, por exemplo, costuma fazer propaganda de como paga bem a seus
pastores, dos benefícios trabalhistas que dá a eles, etc”, completa.
De fato, em 2013 Malafaia revelou
que um pastor de sua igreja poderia ganhar até R$ 22 mil. Mas o plano de
carreira não é fácil. “Para chegar a ser pastor comigo ele vai ser
assistente até chegar ao primeiro nível, chamado de ‘diáconos’, um corpo
de assistentes sem salário”, relata. “Se tiver mesmo a vocação, vai
dirigir igrejas pequenas, onde a gente possa testar o camarada e ver se
ele vai virar pastor ou não. Não tem uma regrinha, mas para virar pastor
e ser consagrado o cara vai levar, no baratinho, de quatro a cinco anos
pelo menos”, decreta.
Diferencie-se pela qualidade
“O meu sistema de abrir igrejas não
é igual ao do Valdemiro, da Universal ou do R.R.”, diz Malafaia, antes
que o entrevistador toque no nome de seus concorrentes. “Eles têm custo
muito baixo, abrem um galpão com sala para o pastor, outra para a
tesouraria e outra para a secretaria e acabou o papo. Eu não, para abrir
uma igreja, só de área educacional preciso ter no mínimo vinte salas.
Toda igreja que abro tem que ter esse padrão, não sou caça-níquel”, diz,
enfático.
“A Universal, por exemplo, hoje tem
uma estrutura diferenciada, mas o que os caras abriram de igreja com
gente que não sabia nem o beabá da Bíblia…”, alfineta. Uma igreja padrão
Malafaia custa em torno de R$ 10 milhões (isso, claro, varia de projeto
a projeto) e tem ar-condicionado, sistema de som de última geração, TVs
de LED.
“A igreja tem o papel social de
melhorar a vida das pessoas. Quando o cara vem à Igreja e a casa dele é
esculhambada, ele passa a querer melhorar a casa. Eu prego sobre isso,
que Deus é esse que não dá dignidade para as pessoas terem uma vida
melhor?”, teoriza.
Não fale em dinheiro
A revista Forbes publicou, em 2013,
que Malafaia era o terceiro pastor evangélico mais rico do país (atrás,
claro, de Edir Macedo e Valdemiro Santiago), com patrimônio estimado em
US$ 150 milhões. Irritado, ele mostrou na TV sua declaração de Imposto
de Renda, na qual constava um patrimônio de cerca de R$ 4,5 milhões, e
está processando a revista. Em sua concepção, sempre que se fala em
dinheiro e em pastores evangélicos, há a intenção de sugerir algo
ilícito.
“A ideia que se passa sempre é a de
que a igreja evangélica é formada de imbecis e analfabetos comandados
por malandros. Por que ninguém fala dos bilhões que a Igreja Católica
manda todos os anos para o Vaticano?”, pergunta, aproveitando para
classificar a questão sobre faturamento como uma “pergunta babaca”.
Malafaia ainda garante que fez um
propósito de abrir mão de salário em sua igreja por sete anos – o prazo
vence em março do ano que vem.
Deixe claro que é o cargo que precisa de você, e não o contrário
“Meu aniversário é em setembro e eu
ganho ofertas em dinheiro. Apenas por dois anos fiquei com elas para
mim, e paguei o imposto devido, nos outros eu devolvi”, conta Malafaia,
nesse momento à vontade para falar de dinheiro.
Ele teve de diminuir o ritmo de
palestras depois de assumir a igreja – este ano foram apenas seis ou
sete lugares, pelo que lembra. Tudo em nome de um propósito. “Um
conferencista conhecido como eu fica rico. Se estivesse fazendo só
conferência, com venda de material, estaria faturando entre 300 mil e
400 mil reais por mês fácil. Os evangélicos cresceram e com eles cresceu
também uma fome de conhecimento, e não há cinquenta caras do meu nível
para atender essa demanda”, regozija-se.
Cause impacto
O Silas Malafaia formado em
psicologia e em teologia, casado há 36 anos (“com a mesma mulher”, faz
questão de completar), que tem três filhos e com o quinto neto a caminho
raramente aparece nas manchetes.
O que de fato o tornou uma pessoa
pública nos últimos anos foi sua capacidade de polemizar sobre assuntos
como homossexualidade e aborto. “Ele é muito mais conhecido por sua
gíria antiquada e linguajar vulgar que pela capacidade de interpretar
com equilíbrio e imparcialidade os textos bíblicos”, condena Marcelo
Rebello.
“A Bíblia é bem clara no que diz
respeito à homossexualidade e ao aborto, no entanto, a palavra de Deus
manda sermos tolerantes com as pessoas que não têm o mesmo ponto de
vista que o nosso. A mensagem deve ser pregada com amor, com equilíbrio e
com sabedoria, não pode ser um show pirotécnico”, conclui o presidente
da ABREPE.
Amado e odiado, bem ou mal, estamos
falando bastante dele nos últimos anos. E isso, aliado, claro, a toda a
visão empresarial destilada aqui, está levando Silas Malafaia mais
longe. Hoje a Mooca, amanhã, quem sabe, o mundo.
Fonte: Gospel+
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