Citações de um sermão de C. H. Spurgeon, traduzidas e adaptadas por Silvio Dutra.
“Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de
que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja.” (Jo 17.26)
Este texto é extraído da última oração do Senhor feita
com seus discípulos. É como se Ele tivesse dito, “eu estou a ponto de
deixá-los, eu estou a ponto de morrer por vocês, e por um tempo me
verão, mas agora, antes de nos separarmos, vamos orar.” É um daqueles
impulsos que vocês sentiram quando estavam prestes a se separar daqueles
que vocês amam, para deixá-los talvez em perigo e dificuldade, e
sentiram que nada poderiam fazer senão dizer: “Vamos nos aproximar de
Deus em oração.” Seu coração não encontrou maneira de se expressar
melhor do que se aproximar do grande Pai e apresentar o caso diante
dele.
Agora, uma oração de uma pessoa como Jesus, nosso Senhor e Mestre,
uma oração em tal companhia, com os onze que havia escolhido, e que
tinham se associado com ele desde o início; uma oração, em tais
circunstâncias, quando ele estava à beira do ribeiro de Cedron, e
prestes a cruzar a corrente sombria e ir até o Calvário, e ali derramar
sua vida numa oração como esta, tão viva, sincera, amorosa e divina,
merece as mais estudiosas meditações de todos os crentes.
Você vai observar que a última palavra da oração do Senhor é sobre
amor. Esta é a última petição que ele oferece: “Que o amor com que me
amaste esteja neles, e eu neles.”
Ele não chega a uma altura maior do
que esta, ou seja, que seu povo deve ser enchido com o amor do Pai. Como
ele podia subir mais alto? Para isso é necessário ser enchido com toda a
plenitude de Deus, desde que Deus é amor, e quem ama permanece em Deus e
Deus nele. Que importância deveríamos dar, eu e você, à graça do amor!
Quão altamente deveríamos estimar que Jesus faz a joia da coroa de
todos. Se tivermos fé, não vamos ficar satisfeitos a menos que nossa fé
opere pelo amor e purifique a alma. Não fiquemos contentes de fato até
que o amor de Cristo seja derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Bem que o poeta diz, “Se somente o amor nos for dado, Senhor, não pedimos nenhum outro céu; “Pois na verdade não existe outro céu aqui embaixo, e dificilmente existe
algum outro céu acima do que chegar à plenitude do amor perfeito. Este é
o lugar onde a oração do Filho de Davi termina, na oração “que o amor
com que me amaste esteja neles.“ Que assunto! O mais alto que até mesmo
nosso Senhor Jesus chegou na sua mais nobre oração. Novamente com
gemidos meu coração clama, Espírito Santo, ajuda-me.
I. Vejamos em primeiro lugar, o alimento do amor a Deus: o que é
isso? É o conhecimento. “Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei
conhecer”.
Não podemos amar um Deus a quem não conhecemos; uma medida
de conhecimento é necessária para a afeição.
Por mais amável que Deus
seja, um cego de alma não pode percebê-lo e, portanto, não é tocado por
sua beleza.
Só quando os olhos estão abertos para contemplar a beleza de
Deus, o coração sairá em direção a Deus, que é um objeto tão desejável
para os afetos.
Irmãos, temos que conhecer para crer, é preciso conhecer
para ter esperança, e devemos especialmente conhecer para amar.
Daí a
grande necessidade de que você deve conhecer o Senhor, e seu grande amor
que excede todo entendimento. Você não pode retribuir o amor que você
nunca conheceu, assim como um homem não pode derivar a força do alimento
que ele não tiver comido.
Até que em primeiro lugar o amor de Deus entre em seu coração, e que
você seja feito participante dele, você não pode regozijar-se nele ou
retribuí-lo.
Portanto, nosso Senhor teve o cuidado de alimentar o
coração dos seus discípulos sobre o nome do Pai. Ele trabalhou para
tornar o Pai conhecido por eles.
Este é um de seus grandes esforços com
eles, e ele se entristece quando vê sua ignorância, e tem que dizer a um
deles: “Estou há tanto tempo convosco, e ainda não me tens conhecido,
Filipe? Aquele que me viu, viu o Pai, e como dizes tu: Mostra-nos o
Pai?”
Então, estude muito a palavra de Deus; seja diligente em virar as
páginas das Escrituras e em ouvir os verdadeiros ministros de Deus, para
que a chama do amor possa ser reavivada em seu coração pelo combustível
do conhecimento sagrado que você derrama sobre ele. Empilhe os troncos
de madeira de sândalo, e deixe o fogo perfumado queimar diante do
Senhor.
Amontoe os punhados de incenso e perfumes de conhecimento sagrado,
para que no altar do seu coração sempre possa estar acesa a chama
sagrada do amor de Deus em Cristo Jesus.
O conhecimento do qual se fala aqui é um conhecimento que Jesus lhes
deu. ”eu te conheci, e também estes compreenderam que tu me enviaste” (Jo 17.25).
“Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer” (Jo 17.26).
Ó amado, não é o conhecimento que você e eu obtemos como uma questão de
aprendizagem de ler um livro que nos irá trazer o amor ao nosso Pai: é o
conhecimento que nos foi dado por Cristo pelo seu Espírito. Não é o
conhecimento comunicado pelo pregador sozinho que irá abençoá-lo, pois
por mais que ele possa ser ensinado por Deus, ele não pode pregar para o
coração, a menos que o bendito Espírito de Deus venha e tome as coisas
que são faladas, e as revele e torne manifestas a cada coração
individualmente, de modo que, por consequência, conheça ao Senhor.
Jesus disse: “Pai justo, o mundo não te conheceu” (Jo 17.25),
e você e eu teríamos ficado na mesma condição, estranhos para Deus, sem
Deus e sem esperança no mundo, se o Espírito de Deus não tivesse tomado
das coisas divinas aplicando-as às nossas almas a fim de que nós
possamos conhecê-las. Cada palavra viva de conhecimento é obra do Deus
vivo. Se você somente conhece o que descobriu por si mesmo, ou obteve
por sua própria capacidade, aparte de Jesus, você não conhece
corretamente; isto deve ser pelo ensino direto e distintivo de Deus
Espírito Santo para que você possa aprender adequadamente. Somente Jesus
Cristo pode revelar o Pai.
Ele mesmo disse: “Ninguém vem ao Pai senão por mim.” Aquele que não
conhece Cristo não conhece o Pai, mas quando Jesus Cristo o revela, ah!
então nós o conhecemos com um conhecimento especial, pessoal, peculiar,
interior. Esse conhecimento traz consigo uma vida e um amor com que a
alma não se ensoberbece, mas se edifica. Por esse conhecimento nós
crescemos nele em todas as coisas que nos são ensinadas pelo Filho de
Deus.
Este conhecimento, queridos amigos, vem a nós de forma gradual. O
texto indica isso. “Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei
conhecer”. Como se, embora conhecessem o Pai, havia muito mais para
conhecer, e o Senhor Jesus estava decidido a ensinar-lhes mais. Vocês
estão crescendo em conhecimento, meus irmãos e irmãs? Meu trabalho é
perdido se você não está crescendo na graça e no conhecimento de nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo. Eu espero que você conheça muito mais de
Deus do que você conhecia há vinte anos quando pela primeira vez você
veio para ele. Quão pouco conhecimento você recebeu pela graça quando
achou “a vida em olhar para o Crucificado”, que lhe salvou, mas nestes
anos posteriores você adicionou à sua fé o conhecimento, e ao
conhecimento a experiência; você tem conhecido mais profundamente do que
conhecia antes, e conhece em detalhes aquilo que antes conhecia apenas
de modo geral.
II. Observemos agora, em primeiro lugar, o que esse amor não é. “Eu
lhes tenho anunciado o teu nome, e o anunciarei, para que o amor com que
me tens amado possa estar neles.” Observe que a oração não é para que o
amor do Pai possa estar neles, ou se mover neles. Deus não nos ama
porque nós o conhecemos, porque ele nos amou antes de nós o termos
conhecido, assim como Paulo fala de “Seu grande amor com que nos amou, e
estando nós mortos em nossos delitos e pecados.” Jesus não veio para
criar o amor do Pai pelos eleitos. Oh, não, ele nem sequer morreu para
esse objetivo, pois o amor do Pai estava sobre os eleitos desde a
eternidade. “O mesmo Pai vos ama” sempre foi verdade. Cristo não morreu
para tornar seu Pai amoroso, mas porque seu pai é amoroso. O sangue
expiatório é o derramar do coração de Deus para conosco. Portanto, não
cometa nenhum erro. Nosso Senhor não fala do amor divino em si, mas em
nós.
Não é sobre o amor eterno de Deus por nós que estamos lendo agora,
mas sobre o seu amor em nós. Nós devemos sentir interiormente o amor que
procede do Pai e, assim, tê-lo em nós. Temos que ter o amor de Deus
derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Isto é
para ser reconhecido por nós, sentirmos em nós, como objeto de alegria
interior; é isto que o Senhor deseja produzir, para que o amor de Deus
esteja em nós, habitando em nossos corações, um convidado bem-vindo, o
soberano de nossas almas.
E este amor é de um tipo muito peculiar. deixe-me ler o versículo de
novo: “Que o amor com que me amaste esteja neles.” Trata-se do próprio
amor de Deus em nós. O amor do Pai por Jesus brota como uma fonte
cristalina, e então a queda de gotas cai e se espalha, e nós somos as
taças em que este amor de Deus transborda com os fluxos de Jesus Cristo.
O amor interior que é muito desejado por nosso Senhor não é nenhuma
emoção da natureza, nenhum processo procedente da vontade não
regenerada, mas é o amor do Pai transplantado para o solo desses pobres
corações, tornando-se o nosso amor a Jesus. E isso não é uma coisa
maravilhosa, que o próprio amor de Deus por Jesus deve habitar em nossos
corações? E ainda é assim. O amor com que amamos a Cristo, observe, é o
amor de Deus por Cristo: “Que o amor com que me amaste esteja neles.”
III. Em terceiro lugar, aqui está o acompanhante do amor. Nosso
Senhor diz: “Eu neles”. Olhe o texto e reflita apenas nessas duas
palavras: “amor” e “eu”. O amor e Cristo vêm juntos. Oh, benditos
convidados! ”Amor” e “Eu”, diz Cristo, como se sentisse que ele nunca
teria um companheiro que melhor lhe conviesse. ”Amor” e “Eu”: Jesus está
sempre na casa onde o amor está reinando. Quando o amor vive no coração
de seu povo, Jesus mora lá também. Será que Jesus, então, vive nos
corações de seu povo? Sim, onde quer que haja o amor do Pai derramado
neles, ele deve estar lá. Temos a sua própria palavra afirmando isto, e
temos certeza de que Jesus sabe onde ele está.
Temos certeza de que ele é o lugar onde o amor está, pois, em
primeiro lugar, onde há amor há vida, e onde há vida há Cristo, pois ele
mesmo diz: “Eu sou a vida”. Não há verdadeira vida na alma do crente
que está separado de Cristo. Temos certeza disto, de modo que onde há
amor há vida, e onde há vida há Cristo. Novamente, onde há o amor de
Deus no coração há o Espírito Santo, mas onde quer que o Espírito Santo
esteja, está Cristo, porque o Espírito Santo é o representante de
Cristo, e é nesse sentido que ele nos diz, “estou convosco todos os dias
“, ou seja, porque o Espírito veio para estar sempre conosco. Então,
onde há amor, há o Espírito de Deus, e onde está o Espírito de Deus está
Cristo. Por isso, é sempre “Amor” e “Eu”.
Além disso, onde há amor há fé, pois a fé opera pelo amor, e nunca
houve verdadeiro amor a Cristo sem a fé, mas onde há fé, há sempre
Cristo.
Sim, mas onde há amor do Pai para com Cristo no coração Deus está lá.
Tenho certeza disso, porque Deus é amor. Portanto, se há amor dentro de
nós, deve ser Deus, e onde Deus está, Cristo está, pois ele diz: “Eu e o
Pai somos um.” Então você vê, onde há amor, deve haver Jesus Cristo,
por estas razões e por muitas outras.
“1João 4:16
E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e
aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele.”
“João 15:10
Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como
também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor
permaneço.”
Fonte: Gospel+
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